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Governança de Ecossistemas de Inovação: o que o Selo CSC revela sobre as cidades brasileiras e como isso se conecta às tendências globais

A transformação das cidades brasileiras pela inovação já não é mais uma possibilidade distante, é uma realidade em curso. A segunda edição do Selo CSC de Ecossistemas de Inovação, realizada em 2025, avaliou 61 municípios de diferentes portes e regiões, revelando aprendizados valiosos sobre como os territórios estão estruturando seus ecossistemas.


Paralelamente, a literatura acadêmica vem consolidando os ecossistemas de inovação como peça-chave para o desenvolvimento econômico e social. O estudo “Innovation Ecosystem: Evolution and Trends” (2024) mapeou diversos artigos científicos sobre o tema, destacando tendências que vão moldar o futuro desses ambientes em todo o mundo.


Neste artigo, vamos cruzar os principais insights do Selo CSC com as tendências globais identificadas pela academia, oferecendo um panorama sobre onde o Brasil está avançando, onde ainda patina e quais caminhos precisam ser percorridos para alinhar as cidades às agendas internacionais de inovação.



O que o Selo CSC revela sobre os ecossistemas brasileiros



A edição 2025 do Selo trouxe alguns dados e achados fundamentais:


  • Crescimento da adesão: foram 61 municípios participantes, um aumento de 22% em relação a 2024.

  • Interiorização da inovação: municípios médios e pequenos representam a maior parte da amostra, mostrando que inovação não é exclusividade das capitais.

  • Governança importa: cidades com conselhos, comitês ou estruturas formais avançaram mais rápido em todos os eixos avaliados.

  • Transparência como gargalo: apenas 41% das cidades possuem sistemas de gestão abertos ou canais ativos de participação social.

  • Integração das hélices: em 84% dos casos Ouro e Prata há articulação formal entre governo, empresas, academia e sociedade civil. Nos níveis iniciais, ainda predomina a lógica da tríplice hélice tradicional.

  • Mensuração de impacto econômico é incipiente: só 3% dos municípios possuem indicadores claros.


Esses achados reforçam um ponto central: a governança é o fator decisivo para transformar boas intenções em resultados consistentes.


Como esses achados dialogam com as tendências globais


De acordo com o estudo Innovation Ecosystem: Evolution and Trends, seis grandes frentes concentram a evolução dos ecossistemas no mundo. A seguir, mostramos como elas se conectam com a realidade brasileira revelada pelo Selo CSC.



  1. Abordagem estratégica e desempenho

    Os ecossistemas de inovação precisam alinhar sua estratégia à criação de valor coletivo e mensurável.

    • No Brasil: o Selo mostrou que municípios com planos estratégicos formais avançaram. Onde não há planejamento estruturado, a evolução da maturidade é limitada.

    • Tendência global: estudos indicam que a clareza estratégica é condição para transformar ecossistemas em motores de competitividade sustentável.


  2. Dinâmica de atores e relacionamentos

    A literatura aponta que a confiança, a cooperação e a orquestração entre diferentes atores são determinantes.

    • No Brasil: cidades Ouro e Diamante apresentaram integração efetiva da quádrupla e, até, quintupla hélice. Já os aspirantes ainda dependem de lideranças isoladas ou de articulações pontuais.

    • Tendência global: compreender os papéis e a interdependência dos atores é essencial para ampliar colaboração e resultados.


  3. Governança e capacidade adaptativa

    Um dos temas mais presentes na pesquisa internacional é a capacidade de adaptação dos ecossistemas frente a crises, mudanças tecnológicas e emergências.

    • No Brasil: cidades com governança institucionalizada, como Curitiba (único município Diamante), se destacam justamente pela continuidade das políticas e pela resiliência organizacional.

    • Tendência global: governança não é apenas coordenação, mas sim a habilidade de orquestrar e adaptar o ecossistema em contextos de incerteza.


  4. Ecossistemas digitais

    O futuro aponta para plataformas digitais, inteligência artificial e governança algorítmica.

    • No Brasil: menos da metade das cidades possuem canais digitais ativos de comunicação e transparência. Esse é um gargalo que pode comprometer a velocidade da inovação.

    • Tendência global: plataformas digitais já são vistas como padrão internacional, e a governança sobre o uso de IA se torna pauta urgente para ecossistemas maduros.


  5. Ecossistemas responsáveis (ESG)

    A conexão entre inovação, sustentabilidade e inclusão social é uma tendência irreversível.

    • No Brasil: a mensuração de impacto ainda é rara. Poucos municípios conseguem demonstrar resultados ambientais ou sociais de suas ações de inovação.

    • Tendência global: práticas verdes e sustentáveis estão se consolidando como critério de competitividade e financiamento internacional.


  6. Pesquisa, desenvolvimento e métricas

A academia ressalta a importância de desenvolver métricas, ferramentas e métodos para avaliar ecossistemas de forma comparável

  • No Brasil: a ausência de indicadores claros é um dos principais pontos fracos identificados pelo Selo CSC.

  • Tendência global: a criação de métricas robustas permitirá avaliar o ciclo de vida dos ecossistemas e sua real contribuição para o desenvolvimento territorial.


Conclusão


O cruzamento entre os resultados do Selo CSC e as tendências globais revela um cenário desafiador e, ao mesmo tempo, cheio de oportunidades para os ecossistemas de inovação no Brasil. O país já conta com ilhas de excelência, que consolidaram estruturas de governança sólidas e políticas contínuas de inovação. Mas a realidade da maior parte dos municípios ainda mostra a necessidade de dar passos fundamentais: estruturar governanças mais estáveis, investir em mecanismos de sustentabilidade financeira, ampliar a digitalização da gestão e da participação cidadã, e adotar métricas capazes de traduzir a inovação em impacto econômico, social e ambiental mensurável.


Esses desafios locais estão diretamente conectados ao debate internacional. Enquanto ecossistemas ao redor do mundo avançam em direções como inteligência artificial, plataformas digitais, sustentabilidade e métricas robustas de desempenho, o Brasil ainda busca consolidar sua base. A diferença, porém, não deve ser vista como atraso, mas como oportunidade: os municípios brasileiros podem aprender com a experiência global e adaptar soluções ao seu próprio contexto, evitando erros já cometidos em outros países e construindo modelos mais aderentes à sua realidade.


Mais do que uma pauta técnica, falar de ecossistemas de inovação é falar de futuro, de como cidades, empresas, universidades, governos e cidadãos podem, juntos, construir territórios mais resilientes, sustentáveis e competitivos. É reconhecer que nenhum ator sozinho é capaz de dar conta da complexidade dos desafios contemporâneos. É, sobretudo, um convite para que o Brasil encare a inovação não como um luxo, mas como condição essencial para o seu desenvolvimento.



Referências:

Paviani, J.R., Tonelli, D.F., Prado, J. W., Castro, R.R., (2024). Innovation Ecosystem: Evo-

lution and Trends in Scientific Literature, Journal of Innovation Management,


 
 
 

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