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Sistema de Inovação x Ecossistema de Inovação: por que essa diferença muda tudo?

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Nos últimos anos, o Brasil aprendeu a falar sobre ecossistemas de inovação. Aprendeu a valorizar a aproximação entre governo, empresas, academia e comunidades; a importância de hubs, eventos, redes e espaços colaborativos; o papel dos ambientes de inovação como motores de cultura e desenvolvimento.


Esse movimento foi, e continua sendo, essencial. Mas ele não conta a história inteira.


Se quisermos realmente transformar territórios, precisamos ir um passo além: compreender que existem duas dimensões complementares, mas profundamente diferentes, que moldam o desempenho inovador de uma cidade, região ou país: o Ecossistema de Inovação e o Sistema de Inovação.


Ignorar essa diferença é um dos motivos pelos quais muitos territórios brasileiros começam bem… mas não conseguem sustentar seus resultados.


Este é o segundo artigo da série e, provavelmente, o mais importante para alinhar conceitos que influenciam diretamente políticas públicas, governança e a capacidade de inovação dos territórios.


O que é, afinal, um Ecossistema de Inovação?


Ecossistemas são organismos sociais vivos. São feitos de gente, cultura, redes, confiança, eventos, colaboração espontânea. Neles acontecem as coisas que costumamos celebrar:


  • startups nascendo,

  • universidades se abrindo para o mercado,

  • empresas se aproximando de hubs,

  • comunidades se articulando,

  • conexões surgindo naturalmente.


No ecossistema, a inovação acontece “por baixo”, de forma orgânica, viva, pulsante. Ele é dinâmico, imprevisível, fluido. O ecossistema é a vida que se manifesta num território. Mas… vida sem estrutura não se sustenta. E é aqui que entra a segunda dimensão.


O que é um Sistema de Inovação? E por que você quase nunca ouviu falar dele?


Muito antes da popularização dos ecossistemas, economistas como Lundvall e Nelson, assim como a OECD e a União Europeia, descreveram algo mais profundo: o Sistema de Inovação. Aqui estamos falando da arquitetura institucional que sustenta o desenvolvimento inovador:


  • políticas e leis,

  • instituições fortes,

  • fundos e mecanismos de fomento,

  • infraestrutura científica e tecnológica,

  • instrumentos formais de cooperação,

  • modelos de governança,

  • capacidades instaladas nas organizações.


No Brasil, isso aparece claramente na Estratégia Nacional de CT&I (ENCTI), que trata ciência, tecnologia e inovação como pilares estruturantes do desenvolvimento nacional. O Sistema de Inovação é a base que permite que o ecossistema exista.


Se o ecossistema é o movimento => o sistema é a estrutura.

Se o ecossistema é o comportamento das pessoas => o sistema é o conjunto de regras, incentivos e instituições que tornam esse comportamento possível.

Se o ecossistema é a “energia” => o sistema é a “rede elétrica”.


Fonte: American Public Power Association
Fonte: American Public Power Association

Por que confundimos as duas coisas no Brasil?


Porque o ecossistema é mais visível. Ele aparece no Instagram, nos eventos, nos hubs, nas conexões. Já o sistema é silencioso. Discreto. Ele acontece em documentos, arranjos, conselhos, regulações, fundos, diretrizes… e exige maturidade institucional.


Muitos territórios celebram o ecossistema e ignoram o sistema, e depois se perguntam:


  • “Por que não escalamos?”

  • “Por que perdemos continuidade quando muda o governo?”

  • “Por que dependemos de poucas pessoas?”

  • “Por que temos inovação, mas não desenvolvimento?”


A resposta é simples: Porque ecossistema sem sistema é fogueira sem madeira. Ela acende, mas não dura.


Onde está a diferença, de forma simples e prática


Ecossistema de Inovação

Sistema de Inovação

Conexões, redes, cultura

Regras, políticas e instituições

Colaboração espontânea

Cooperação estruturada

Energia e velocidade

Estabilidade e continuidade

Vida social da inovação

Arquitetura que sustenta a vida

Eventos, hubs, comunidades

Leis, governança, infraestrutura, fomento


Os dois são indispensáveis. Mas cumprem papéis diferentes. E nenhum substitui o outro.


O erro típico dos territórios brasileiros


Muitos municípios fazem exatamente isto:


✔ Criam um ecossistema inicial vibrante

✘ Sem construir o sistema que o sustenta

→ Resultado: discontinuidade a cada ciclo político


Ou:

✔ Criam estruturas formais e políticas públicas

✘ Sem vida no ecossistema

→ Resultado: papel, prédios e programas que não viram impacto


Essa desconexão é a raiz da maior parte das frustrações no campo da inovação territorial no Brasil.


A pergunta que deveria guiar líderes públicos e empresariais


Não é: “Como criamos um ecossistema?”


É: "Como alinhamos o Sistema de Inovação com o Ecossistema de Inovação para transformar potencial em desenvolvimento real?"


Quando isso acontece:

  • políticas se convertem em resultados,

  • hubs se conectam com instituições,

  • talento encontra oportunidade,

  • capital flui,

  • empresas inovam com mais velocidade,

  • a cidade se torna mais competitiva,

  • a economia se transforma.


A ponte entre os dois mundos e o que vem no Artigo 3


Entre o sistema e o ecossistema existe um elemento que costura tudo: a governança. Não a governança burocrática. Não o conselho “que se reúne de vez em quando”. Governança como capacidade coletiva de organizar, priorizar e sustentar processos. Governança como energia direcional. Governança como mecanismo de coordenação e continuidade.


É isso que vamos aprofundar no Artigo 3 da série, que será dedicado inteiramente a mostrar como a governança transforma:


intenção política → ação coordenada

estruturas formais → impacto real

ecossistemas vivos → territórios capazes de competir no longo prazo.


O Brasil já aprendeu a construir ecossistemas. O próximo passo, mais difícil, mas absolutamente necessário, é construir sistemas. Porque ecossistemas explicam o movimento. Mas sistemas explicam o desenvolvimento. E quando os dois se encontram, nasce aquilo que realmente importa: territórios capazes de inovar de forma contínua, consistente e com impacto real.







 
 
 

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